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. Durante muitos dias pensei comigo mesma se aquele homemexistia de verdade, ou se era um anjo que Deus enviou para memostrar as lições secretas da vida.No final, concluí que era mesmoum homem.Um homem que me havia amado, nem que fosse apenaspor uma tarde, e nesta tarde me entregou tudo que havia guardadodurante sua vida inteira suas lutas, seus êxtases, suas dificuldades eseus sonhos.Também eu me entreguei por completo naquela tarde fui sua companheira, esposa, ouvinte, amante.Em algumas horas, eupude experimentar o amor de toda uma vida.A mãe olhou para a filha.Gostaria que ela tivesse entendidotudo.Mas, no fundo, achava que Brida vivia num mundo onde estetipo de amor já não tinha mais lugar. Jamais deixei de amar seu pai, um só dia que fosse concluiuela. Ele sempre esteve ao meu lado, me deu o melhor que podia, e euquero estar junto a ele até o final dos meus dias.Mas o coração é ummistério, e eu jamais vou entender o que aconteceu.O que sei é queaquele encontro me deixou mais confiante em mim mesma, mostrandoque eu ainda era capaz de amar e ser amada, e me ensinando algo quenunca vou esquecer: quando você encontrar uma coisa importante navida, não quer dizer que precise renunciar a todas as outras. De vez em quando ainda me lembro dele.Gostaria de saberonde está, se descobriu o que procurava aquela tarde, se está vivo, ouse Deus se encarregou de tomar conta de sua alma.Sei que não voltaránunca e só assim pude amá-lo com tanta força e com tanta certeza.Porque não poderia jamais perdê-lo; ele se havia entregue porcompleto aquela tarde.Sua mãe levantou-se. Acho que preciso ir para casa terminar o seu vestido disse. Vou ficar mais um pouco aqui respondeu Brida.Ela aproximou-se da filha e beijou-a com todo carinho. Obrigada por me escutar.Foi a primeira vez que contei estahistória.Sempre tive medo de morrer com ela, e apagá-la para sempreda face da terra.Agora você vai guardá-la para mim.144Brida subiu as escadas e parou diante da igreja.O edifício,pequeno e redondo, era o grande orgulho da região; foi um dosprimeiros lugares sagrados do cristianismo naquelas terras, e, todoano, estudiosos e turistas vinham visitá-lo.Nada existia da construçãooriginal do século V, exceto algumas partes do piso; cada destruição,porém, deixava alguma parte intacta, e desta maneira o visitante podiaver a história de vários estilos arquitetônicos numa mesma construção.Lá dentro, um órgão tocava, e Brida ficou algum tempoescutando a música.Naquela igreja estavam as coisas bem explicadas,o universo no lugar exato onde devia estar, e quem entrasse em suasportas não precisava se preocupar com mais nada.Ali não existiamforças misteriosas que estavam acima das pessoas, noites escuras ondeera preciso acreditar sem compreender.Já não se falava mais emfogueiras, e as religiões de todo o mundo conviviam como se fossemaliadas, ligando de novo o homem a Deus.Seu país ainda era umaexceção nesta convivência pacífica ao Norte, as pessoas se matavamem nome da fé.Mas isto devia acabar em alguns anos; Deus estavaquase explicado.Ele era um pai generoso, todos estavam salvos. Sou uma feiticeira , disse para si mesma, lutando contra umimpulso cada vez maior de entrar.Sua Tradição agora era diferente e,embora fosse o mesmo Deus, se ela cruzasse aquelas portas estariaprofanando um lugar, e sendo profanada por ele.Acendeu um cigarro e olhou o horizonte, procurando não pensarmais nisto.Tentou concentrar-se na sua mãe.Teve vontade de voltarcorrendo para casa, deitar no seu colo, e contar-lhe que daqui a doisdias ia ser iniciada nos Grandes Mistérios das feiticeiras.Que tinhafeito viagens no tempo, que conhecia a força do sexo, que era capaz desaber o que estava na vitrine de uma loja usando apenas as técnicas daTradição da Lua.Precisava de carinho e compreensão, porque tambémela sabia histórias que não podia contar para ninguém.O órgão parou de tocar, e Brida tornou a ouvir as vozes dacidade, o canto dos pássaros, o vento que batia nos galhos e anunciavaa vinda da primavera.Atrás da Igreja, uma porta se abriu e se fechou alguém havia saído.Por um momento, viu-se de novo num domingoqualquer da sua infância, de pé onde estava agora, irritada porque amissa era longa e o domingo era o único dia em que podia correr peloscampos.145 Preciso entrar. Talvez sua mãe entendesse o que estavasentindo; mas naquele momento, ela estava longe.O que tinha diantede si era uma igreja vazia.Jamais perguntara à Wicca qual o papel docristianismo em tudo que estava passando.Tinha a impressão que, secruzasse aquela porta, estaria traindo as irmãs queimadas na fogueira. Entretanto, eu também fui queimada na fogueira , disse para simesma.Lembrou-se da oração que Wicca fez no dia em que secomemorava o martírio das bruxas.E nesta oração, ela citou Jesus e aVirgem Maria.O amor estava acima de tudo, e o amor não tinha ódios apenas equívocos.Talvez, em certa época, os homens tivessemresolvido ser os representantes de Deus e cometeram seus erros.Mas Deus nada tinha a ver com isto.Não havia ninguém lá dentro, quando finalmente entrou.Algumas velas acesas mostravam que, naquela manhã, uma pessoa sepreocupara em renovar sua aliança com uma força que apenaspressentia e, desta maneira, cruzara a ponte entre o visível e oinvisível.Arrependeu-se do que pensara antes: também ali nada estavaexplicado, e as pessoas tinham que fazer sua aposta, mergulhar naNoite Escura da Fé.Diante dela, com os braços abertos na cruz, estavaaquele Deus que parecia simples demais.Não podia ajudá-la.Ela estava sozinha em suas decisões, eninguém poderia ajudá-la.Precisava aprender a correr riscos.Nãopossuía as mesmas facilidades do crucificado à sua frente queconhecia a sua missão, porque era o filho de Deus.Nunca errou.Nãoconheceu o amor entre os homens, só o amor por seu Pai.Tudo o queprecisava fazer era mostrar sua sabedoria, e ensinar de novo àhumanidade o caminho dos céus.Mas, seria apenas isto? Lembrou-se de uma aula de catecismo,num domingo, quando o padre estava mais inspirado do que decostume.Naquele dia, estavam estudando o episódio em que Jesusrezava para Deus, suando sangue, e pedindo para que o cálice queprecisava beber fosse afastado. Mas se ele já sabia que era filho de Deus, por que pediu isto?perguntara ao padre. Porque ele sabia apenas com o coração.Se tivesse absolutacerteza, sua missão ficava sem sentido, porque não teria setransformado completamente em homem.Ser homem é ter dúvidas, e,mesmo assim, continuar em seu caminho.Olhou de novo para a imagem, e pela primeira vez em toda asua vida, sentiu-se mais próxima dela; talvez ali estivesse um homem146sozinho e com medo, enfrentando a morte, e perguntando Pai, Pai,por que me abandonaste?.Se falou isto, é porque nem ele tinhacerteza de seus passos.Tinha feito uma aposta mergulhado na NoiteEscura como todos os homens, sabendo que só iria encontrar aresposta no final de toda a sua jornada
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