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.O espancamento não demorou muito; talvez estivessem todoscansados demais com tanta violência.Elias caiu por terra. Saia daqui! disse alguém. Voce pagou nosso amor com o seuódio!O grupo afastou-se.Ele não tinha forças para levantar-se.Quandoconseguiu recuperar-se da vergonha, já não era mais o mesmo homem.Não querianem morrer, nem continuar vivendo.Não queria nada: não tinha amor, nem ódio,nem fé.Acordou com alguém tocando seu rosto.Ainda era de noite , mas alua já não estava mais no céu. Prometi a minha mãe que cuidaria de você , disse o garoto. Masnão sei o que fazer.125 Volte para a cidade.As pessoas são boas, e alguém o acolherá. Voce está ferido.Eu preciso cuidar de seu braço.Talvez um anjoapareça, e me diga o que fazer . Voce é ignorante, não sabe nada do que está acontecendo! gritouElias. Os anjos não voltarão mais, porque nós somos pessoas comuns, e todos sãofracos diante do sofrimento.Quando as tragédias ocorrem, que as pessoas comuns sevirem com seus próprios meios!Respirou fundo, e procurou acalmar-se; não adiantava ficardiscutindo. Como você chegou até aqui? Eu não fui embora. Então voce viu a minha vergonha.Viu que não tenho mais nada oque fazer em Akbar. Voce me disse que todas as batalhas serviam para alguma coisa,mesmo aquelas que somos derrotados.Ele lembrava-se da caminhada até o poço, na manhã anterior.Maspareciam que anos se haviam passado desde então, e tinha vontade de dizer-lhe queas belas palavras não significam nada, quando se está diante do sofrimento; masresolveu não assustar o garoto. Como escapou do incêndio?O menino abaixou a cabeça. Não tinha dormido.Resolvi passar anoite em claro, para ver se voce e mamãe se encontravam em seu quarto.Vi quandoos primeiros soldados entraram.Elias levantou-se e começou a andar.Procurava a rocha em frentedo Monte Cinco onde, certa tarde, assistira o por do sol com a mulher. Não devo ir , pensava. Ficarei mais desesperado ainda.126Mas uma força o empurrava naquela direção.Quando chegou lá,chorou amargamente; assim como a cidade de Akbar, o local estava marcado poruma pedra - mas ele era o único, em todo aquele vale, a entender seu significado;não seria louvada por novos habitantes, nem polida por casais que descobrem osentido do amor.Pegou o garoto em seus braços, e tornou a dormir.127 Estou com sede e com fome , disse o menino para Elias, assimque acordou. Podemos ir a casa de uns pastores que vivem aqui perto.Nãodeve ter acontecido nada com eles, porque não viviam em Akbar. Precisamos consertar a cidade.Minha mãe disse que ela eraAkbar.Que cidade? Não havia mais palácio, nem mercado, nemmuralhas.As pessoas dignas se transformaram em salteadores, e os jovens soldadostinham sido massacrados.Os anjos não voltariam mais - mas este era o menor deseus problemas. Voce acha que a destruição, a dor, as mortes de ontem a noitetiveram um significado? Voce acha que é preciso destruir milhares de vidas, paraensinar o que quer que seja a alguém? O garoto olhou-co com cara de espanto. Esqueça o que eu disse , falou Elias. Vamos procurar o pastor. E vamos consertar a cidade , insistiu o menino.Elias não respondeu.Sabia que não conseguiria mais usar suaautoridade com o povo, que o acusava de haver trazido a desgraça.O governadorfugira, o comandante estava morto, Tiro e Sidon possivelmente cairiam logo sob odomínio estrangeiro.Talvez a mulher estivesse certa; os deuses mudavam sempre -e desta vez era o Senhor quem havia partido.128 Quando voltaremos para lá? perguntou de novo o menino.Elias pegou-o pelos ombros e começou a sacudi-lo com violência. Olhe para trás! Voce não é um anjo cego, mas um garoto quepretendia ficar vigiando o que a mãe fazia.O que está vendo? Reparou nas colunasde fumaça que sobem ? Sabe o que significa isto? Voce está me machucando! Eu quero sair daqui, quero irembora!Elias parou, assustado consigo mesmo: nunca agira daquelamaneira.O menino desvencilhou-se, e começou a correr em direção a cidade.Eleconseguiu alcança-lo, e ajoelhou-se aos seus pés. Perdoa-me.Não sei o que estou fazendo.O garoto soluçava, mas nem uma só lágrima corria por sua face.Ele sentou-se ao seu lado; esperando que se acalmasse. Não vá embora , pediu
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